terça-feira, 2 de fevereiro de 2010

Coragem é coragem... e pronto!

Resolvi “raptar” a Milla dia desses, e liguei pra ela:

- Milla. Põe um biquíni, veste um jeans que eu passo já pra lhe pegar.

- Aonde nós vamos, pai?

- Bem ali... é rápido... vamos de moto... chego já aí. Beijo!

Desliguei o fone, amarrei o capacete na moto e fui pega-la.

Estava pronta; montou na motocicleta e perguntou, ansiosa como só ela:

- Aonde é, pai?

- Bem ali...

- Alí aonde? Diiiiiiiz!!!

- Alí, em Guaramiranga... Parque das Trilas.... vamos fazer rapel hoje!

- Pai!!!!!!

Vale salientar que esse “Pai!!!!” estava carregado de medo, pavor, realização, concretização de um sonho, contentamento e muitos outros sentimentos que só ela sabe que sentiu, tudo ao mesmo tempo. Dá pra ter uma idéia de como foi esse “Pai!!!”!?!?

Seguimos de moto esses 120 kms, deliciosos, de subida de serra com cheiro de terra e mato, que nos separavam desse grande e novo desafio para ambos. É, eu também tava com um certo tremelique nas pernas... não vou mentir!!!

Chegamos, ingressamos no parque e o guia nos sugeriu seguir, primeiro, as trilhas no meio da mata. Já havíamos feito estas caminhadas várias vezes, eu, Milla, Márcia, Farelo, Cristina e Manu, e já não era nenhuma novidade para nós. Além do mais, estávamos loucos para ver e fazer o rapel. Era isso o que queríamos. Era apenas nisso que pensávamos. Poxa, leva logo a gente pro rapel, seu moço!!! - pensamos ao mesmo tempo!

Pulamos, lógico, todas as etapas que os outros turistas costumam adorar seguir e fomos ao tão esperado rapel.

Antes de chegar lá, no entanto, passamos por uma tiroleza fantástica. Nunca havíamos feito tiroleza também e já aproveitamos para realizar mais esse pequeno sonho. Era pra ser apenas um aperitivo. Seria apenas um detalhe, um mero contratempo a nos separar daquele sonho antigo: o rapel; uma coisinha meio sem graça, com certeza, mas já que estava ali, no meio do caminho, faríamos também; afinal o que custava, né! Mas não foi bem assim.

Quando nos aproximamos da tiroleza, fui logo verificar as amarrações, as ancoragens, as cordas e demais equipamentos que iríamos utilizar na brincadeira: aventuras sempre, mas nunca aventureiros. Segurança, pra aventura acabar sempre bem.

E falei pra Milla:

- Vai?

- Claro pai... é lógico que vou! – disse ela com aquele sorriso lindo que só ela tem estampado no rosto e com os olhos brilhando de contentamento. Bem, pelo menos foi assim que decifrei toda a sua expressão; mas eu estava enganado.

Preparativos rolando, colocação e amarração da cadeirinha, presilha devidamente fixada na corda de segurança; tudo pronto para uma grande a apoteótica descida rumo ao outro lado do lago.

- Mas... pera aí, seu moço... essa corda tá bem amarrada?

- Milla, eu mesmo vi a amarração. Tá firme sim, pode confiar – disse eu.

- Pronto, Camilla? – perguntou o guia.

- Pronto... mas... pera aí. E essa cadeirinha tá bem presa também?

- Tá, Camilla. Vc não me viu colocando tudo direitinho? Então!? – disse o guia pacientemente.

- É... tá... tô pronta! Mas...

Eu já comecei a rir entendendo que aquele sorriso lindo que só ela tem e aqueles olhos brilhando não eram bem de contentamento; eram de pavor!!!

E continua o guia:

- Pronto?

- Tá. Mas... mas...mas... quando chegar do outro lado, como é que a gente pára?

- Eu seguro a corda daqui e vc pára – disse ele.

Até ele já estava rindo a essa altura da história, e falou:

- Tá, já entendi. Quando vc voltar, eu respondo o resto... e empurrou a Milla!!!!

Vi macacos pulando de uma árvore pra outra; cobra caindo do galho; pássaros saindo em revoada; tartaruga escondendo a cabeça; raposa soltando o coelho que já estava na boca; tudo aconteceu com o enorme grito que ecoou em meio à mata virgem!!!

Foi um grito só, de um único fôlego, até encalhar na areia do outro lado.

Não consegui deixar de rir o mesmo tempo que durou o grito!

Mas, fazendo justiça, ela retornou e foi outra vez – sem qualquer grito! Eu também fui, lógico. Ainda bem que ela não ouviu o meu grito; ela ainda estava muito nervosa pra perceber isso! Que sorte!

E a fauna daquela mata linda jamais foi a mesma após nossa passagem: todos os bichos fazem terapia até hoje!


Chegamos, enfim, ao tão sonhado rapel; uma experiência única, sem precedentes em nossas vidas e que jamais esqueceremos, por certo! Mas... conto sobre ele n’outra oportunidade!