terça-feira, 21 de setembro de 2010

É dela, de quem falo!

Estou eu aqui, em Viçosa do Ceará, preocupado com a saúde de meu pai. Ele não está bem, todos sabemos!

Mas... e minha mãe!

Volto no tempo e lembro de minhas desavenças com ela. Natural, interpreto agora, por minha imaturidade -ou alguma maturidade, nem sei! -,por minhas inseguranças da adolescência, minhas arrogâncias de jovem ariano, minhas certezas de homem maduro, quem sabe! Culpa? Não, não as tenho! Sei que aprendemos com o passar dos anos, com a vida; e como não sabia de muitas coisas, não posso me culpar!

Mas lamento sim, por outras!
Acho, hoje, que fui injusto com ela em alguns momentos, por minhas discussões, por minhas ideias divergentes, por minha impaciência, por não entender muito bem que tudo o que ela queria, almejava de coração mesmo, era nosso bem, nossa união, de toda a família. Sei de sua história e de suas “durezas” na vida. E sei, também, que não é tarde pra reconhecer o seu valor em nossas vidas. Sei que falo por mim, pelo meu irmão e pelo meu pai, tenho a certeza!

Apanhei, fiquei de castigo, chorei, perdi férias; fumei cigarros um atrás do outro, por haver sido descoberto com eles ainda criança; não pude correr da cinta pra não piorar a surra; chorei muito por não poder acompanhar meus amigos em suas noitadas; não ganhei um violão nos meus quinze anos; não tive roupas de griffe como os outros; não pude dirigir aos 16, 17 anos como todos os amigos faziam; tive que respeitar os mais velhos; tive que aprender a tabuada; se chegasse na casa de alguém, jamais poderia mexer nas coisas; tive que comer toda a comida do prato; e, hoje, entendo o por que de cada uma dessas coisinhas.
Lamentei demais a morte de meu irmão mais velho... Imagino, a ela, com a morte dele; imagino, a ela, com a morte de sua mãe; imagino, a ela, com a morte de seu único irmão; imagino, a ela, com a morte de seu pai, mal conhecido!!!

E nem assim esmorece!?!?!

Como pode trazer em si tanta força, tanta garra!!! De onde vem tudo isso, se seu único exemplo de vida foi sua mãe, que há tanto perdeu; se, depois dela, seu novo único exemplo é meu pai, companheiro, zelador que foi de toda uma vida!!! Também, pudera: com exemplos desses...!!!

Há fardos carregados por toda uma vida. Espero, hoje, e de coração, não ser apenas mais um deles.
Mas percebo que sua vontade de viver, de progredir, de melhorar, é muito maior que todas as agruras que a vida lhe reservou, lhe desferiu. Sei que Deus não impele fardos mais pesados do que o que temos capacidade de carregar. E ela é assim: carregadora de fardos sem que os ombros sintam, sem que deformem, sem que desfaleçam. Ela é assim; e gosta de ser assim; e quer ser assim; prefere ser assim!!!

Como poderia, se assim não fosse, enfrentar um casamento desconhecendo o que dele resultaria, sem saber o que devia ser feito por uma mulher? Como teria entendido que deveria recomeçar a estudar após os 40 anos de idade e, seguindo, se formar em Direito, concluindo o curso com méritos maiores que os recém ingressos na idade certa? Como estaria ela, agora, vivendo e enfrentando qualquer coisa que vier sem ter tido uma única orientação de seu pai? De onde viria a vontade de aprender acerca de internet, e-mails, celulares, artesanato? Desafios enfrentados com os acidentes de meu irmão; de minha ausência em sua casa; de netos pouco presentes?

Entendo que sua vida é uma maravilha que Deus concede a poucos: aprender tanto em tão pouco tempo; numa única vida! Ela perceberá!

Seus exemplos estão por toda a parte, em minha vida, na vida da nora, na vida dos netos, nos amigos, no outro filho, mesmo que não seja externado ou aparentem não ser percebidos. Sua conduta é exemplo de mulher ativa; até altiva, de certo; mas, antes, ativa!

Defeitos, claro que os tem! E quem não?
Mas, cuidadora, não passa nada despercebido, seja a viagem da neta, sejam as necessidades dos filhos, seja o bolo que a nora gosta; nem o almoço do carroceiro na porta de casa; se o Louro chegou, almoçou, jantou. Não se desliga das datas nunca: aniversários, casamentos, falecimentos, construção da casa, mudanças de cidade, compra da mobília, nada. Está sempre pronta a tomar a frente das coisas, como se sozinha no mundo fosse - chega até a esquecer que tem filhos que se preocupam com ela. Tem sempre a necessidade de ser mais do que pode, achando que ainda tem idade pra tudo! Ela é assim: indestrutível, turrona, franca, chorona, amável e dura, tudo ao mesmo tempo!!!

E é assim, essa minha mãe: pouco se importa com ela, colocando sua família sempre antes dela própria.

Minha mãe, tenho a lhe dizer: não está, nunca esteve  e nunca estará sozinha no mundo. Desses dois filhos que lhe restaram, cem por cento lhe ama e lhe cuidará para sempre. E de tudo o que a senhora ousar pensar que Deus possa lhe ter negado, seja felicidade, seja tranqüilidade, seja paz, lhe será provado o contrário!!!

Ao final, sei que não poderia, a senhora, estar bem neste momento; nem nós! Mas estaremos juntos, aconteça o que tiver que acontecer... sempre! Somos poucos em nossa família, mas nunca estaremos sozinhos!