segunda-feira, 14 de junho de 2010

Ano Oitenta; Oitenta Anos!!!


Oitenta anos de meu pai.

Observo que é um feito incrível se chegar aos oitenta anos hoje em dia, num mundo de tantos riscos, compromissos, sobressaltos, chateações, doenças modernas e antigas. Enfim, quem chega aos oitenta pode se considerar um heróico sobrevivente, apesar da moderna ciência constatar e contribuir com a longevidade. Mas a ciência só cuida; não cria nenhum ser vitorioso!

Tá certo que ele, meu pai, não foi um cara que correu grandes riscos. Acho, até, que o maior deles foi ser carteiro num tempo em que ainda nem havia Pit Buls, mas que o sol já pegava forte. É... jogou futebol no Gentilândia, mas conseguiu escapar ileso dos zagueiros. Nunca fez um vôo livre, nem rapel; nunca usou drogas (exceto o cigarro!); nunca bebeu, nunca pulou de pára-quedas ou mergulhou com tubarões e arraias; nunca fez um cavalo-de-páu; nunca empinou na motocicleta ou andou a 160 p/hora; até hoje, detesta buchada e panelada; não foi um cara de virar noites em farras ou ter que sair correndo dos garçons de bares, dando aqueles famosos “chechos”; nunca namorou com mulher de policial! Correu poucos riscos na vida, é bem verdade!

Lógico que tudo isso favorece para se chegar aos oitenta, claro! Quem pode negar!!!

Mas o que há de verdadeiramente fantástico em ele chegar aos oitenta é por ser uma unanimidade: pela gentileza, pela educação, pela simpatia; por sua honestidade, por seu respeito aos outros, por sua cidadania; pela ajuda aos que necessitam, pelos aconselhamentos, pela cultura. Sim... aí, sim, é fantástico! E exemplo raro!

Defeitos...óbvio que os tem; e quem não? Mas, mesmo com eles, foi e é exemplo pra muita gente, tanto mais para os que convivem amiúde.

Sereno como ele só, chegando às vias da indiferença; só impressão. Calmo ao extremo, parecendo, por vezes, apático; impressão. Econômico nas palavras e gestos, como quem diz “não tenho nada com isso”; impressão. Sempre magro e de aparência frágil, transparecendo pouca resistência; mera impressão: quem o acompanhou no último ano que o diga.

Chega aos oitenta com pouca vitalidade, de certo, mas por sua longa missão já cumprida no que se propôs. Sua família sempre muito bem assistida em todas as necessidades básicas e, até, nas não básicas. Ansioso por achar que faltou cumprir parte dessa missão quando se refere aos filhos, esquecendo que a missão maior foi bem finalizada: são dois – e teriam sido os três – honestos, bons companheiros de trabalho, cidadãos do mundo, cheios de amor pela vida e pelas pessoas; humildes como ele; amigos fiéis e disponíveis; sentimentais, que choram com um filme ou uma música; que vibram com um texto bem escrito; que tem sempre uma palavra de ânimo a quem se chegar. Como não foi cumprida?!?!

Chegamos a esta data festiva com os corações realmente em festa, por Deus nos permitir a vinda no cerco deste que tanto da vida ensinou, mesmo que em poucas linhas: mais exemplos, menos palavras!

Que o que há de vir lhe venha como conforto, como alento e até como refúgio pelo tanto que já contribuiu no mundo. Que se chegue, a ele, o que de melhor e mais singelo puder vir de Deus, por todas as bênçãos que ajudou a proporcionar.

Beijo de todos nós... e dos tantos outros de quem nem ele lembra mais, mas que, de certo, adorariam, agora, poder dar!