sábado, 18 de dezembro de 2010

Esporte aculturado.

Temos alguns orgulhos nacionais para massagear nosso ego de patriota tupiniquim: Pelé, Zico, Acelino Popó, Família Grace, entre outros poucos exemplos, todos esportistas que iniciaram e permaneceram treinando no Brasil e, mesmo assim, brilharam em suas modalidades esportivas.

Não é de agora que atletas das mais diversas modalidades dão apenas os primeiros passos em sua terra natal e escapolem para o exterior na intenção de aprimorarem suas técnicas e treinamentos, lançando mão de profissionais mais experientes e à caça de bons salários. Natural, acho, já que suas intenções são de atingirem níveis que não existem no nosso país, pela falta de tradição na modalidade escolhida ou por falta de gente especializada e apoio, vez que os investimentos aqui sempre são ínfimos em tudo.

Duas coisas me chamam a atenção neste tema.

Primeiro, há uma vibração exagerada e sem cabimento, a meu ver, quando um César Cielo, a exemplo, ganha uma medalha olímpica ou outra prova importante qualquer. Costuma-se lançar mão desse destaque para elevar a imagem do Brasil no esporte. Penso que é fazer cortesia com o chapéu alheio, já que este rapaz, talentoso sem dúvida, não tem do nosso país uma gota sequer de investimento em seu sucesso. Seu treinamento foi realizado integralmente em outro país e nós apenas pegamos carona em suas realizações, aproveitando o fato de ele haver nascido por aqui; apenas por isso.

Segundo, agora no futebol especificamente, há um descompasso entre a arte e as finanças. Explico: um jogador como Ronaldinho Gaúcho aprende a jogar do jeito brasileiro, aquele jeito moleque, debochado, despretencioso, desobrigado com a perfeição e, mesmo assim, é perfeito. Esta sempre foi a maior característica do nosso 'futebol arte', e por estes detalhes é que fomos os melhores do mundo por várias décadas.
Ocorreu uma debandada de bons atletas para os campos da Europa, principalmente, por conta dos altos salários ofertados. Certo, até entendo que o atleta deva aproveitar essas oportunidades de ganhar bem e ver suas habilidades valorizadas. Mas este fato encerra um processo maléfico para o nosso futebol: o atleta é obrigado a adaptar-se ao jeito europeu de jogar e isso substitui a arte moleque dos campos de várzea, por conta do estilo comedido e disciplinado do velho mundo; descaracteriza o nosso jogador e lhe transforma em apenas mais um europeu, não sendo mais um 'brasileiro bom de bola'.
Por conta desta descaracterização é que temos o nosso futebol se nivelando aos dos europeus, africanos, gregos, etc; nivelando, que me perdoem todos estes, por baixo. Deixamos de ser hegemonia no futebol pela simples e natural descaracterização de nosso atleta, que antes era um artista.

Vejo, portanto, que não nos resta outra atitude que não a de fazer nosso atleta optar entre ganhar muito dinheiro em campos alheios ou ficar e ter a grande chance de representar sem país na nossa grande seleção brasileira. Não iria, nunca mais, juntar as duas coisas. Se optasse por ganhar dinheiro, esqueceria de vez as possíveis convocações para a nossa seleção.

Em sendo técnico, não escolheria atletas que foram jogar fora do país para compor minha seleção. Quero o futebol arte de volta, que só existe nos campos de areia das periferias de nosso país e que se traduz em lágrimas nos 190 milhões de devotos. E sei que entre os inúmeros times e trocentos milhões de atletas que temos espalhados por este nosso Brasil, há de se ter 30 excelentes 'peladeiros'.