domingo, 28 de junho de 2009

Arte e Profissão. Jornalismo: questionamentos!

Fui instigado pela minha filha a opinar sobre a decisão do STF acerca da não obrigatoriedade da formação superior para o exercício da profissão de jornalista, o que realmente me fez pensar muito antes de me debruçar no papel. E exponho minhas conclusões, sem a pretensão de ser conclusivo!

De antemão não sou jornalista, apesar do encanto declarado pela construção de textos. Quem se aventura nesta arte, a de escrever, deve ter em mente que será sempre, em maior ou menor escala, um formador de opinião, o que não é pouca responsabilidade.

Pois bem!
As inúmeras manifestações dos sindicalistas do setor me parecem meramente questões salariais e diretamente ligadas à possível diminuição do poder de negociação entre jornalistas e empresários.

As alegações de que a não exigência da formação superior para o jornalista fará com que se volte à imprensa “marrom”, como diz Rogério Marques, vice-presidente do sindicato dos jornalistas do Rio de Janeiro, são infundadas, visto que este tipo de imprensa nunca desapareceu de nosso meio. Muitos jornalistas se valem dessa obrigatoriedade do diploma para auferirem ganhos extras publicando matérias mesmo que sem concordarem com o que estão escrevendo, imprimindo opiniões tendenciosas e de interesses particularíssimos; os programas policialescos, os jornais de mexericos sobre estrelas, as inúmeras revistas de amenidades, os tablóides de beira de esquina que tratam apenas das desgraças humanas e que não contribuem em nada para a melhora cultural de nossa população estão aí por todos os lados. Será mesmo necessário ter formação superior para assinar tais publicações? De que vale ter formação superior e, ainda assim, contaminar a população com este tipo de informação inútil e agressiva, de mau gosto e maléfica, prestando apenas desserviços!

Escrever é mais arte que técnica; tem muito de talento mesmo.
Os jornalistas estão magoados por haverem sido comparados aos chefes de cozinha, como se uma ofensa fosse. Ora! Estes são verdadeiros artistas, comparação que deveria encher de orgulho os profissionais da imprensa!

A um pintor deve ser exigido diploma das escolas superiores para poder exercer sua arte? Suas obras passam a ser menores por ele não ser graduado? Exija-se, então, diploma de formação superior dos escultores, músicos, artistas plásticos, designers gráficos, etc.

Qual a diferença existente entre a prática do jornalismo e a publicação de livros, alguém pode me dizer? E aos que publicam livros, é exigida formação superior?

Os “graduados” em jornalismo hoje já são responsáveis por muitos males causados a muitas pessoas, publicando opiniões tendenciosas, execrando sem provas ou baseados em poucas frágeis, “matando pessoas moralmente”, como bem disse Carmem Pereira, membro da comissão de ética da Fenaj. Prova disso, e só para ilustrar, foi o episódio da Escola de Base em São Paulo, onde seus proprietários tiveram que fechar a instituição e saírem da cidade após serem acusados de maus tratos às crianças, acusações que se provaram falsas mas que foram exaustivamente exploradas pela imprensa com nível superior que se considera, simplesmente por esta formação, técnica, ética e responsável! O diploma não evita sequer as aberrações ortográficas vistas em nossos jornais periódicos. O que seria de muitos “jornalistas” se os editores de textos não lhes corrigissem automaticamente...!

Não se está, aqui, querendo dizer que a técnica ensinada nos cursos superiores não importa ou é desnecessária. Para algumas funções específicas dentro das redações e no mundo empresarial e corporativo, acredito, continuará a se optar pelos profissionais que possuam esta formação em funções onde a técnica seja imprescindível. Ficará a cargo do bom empresário da comunicação esta análise. O que depreendo da decisão do STF é a possibilidade de se valorizar também o talento ao invés de apenas a técnica, coisas bem diferentes.

Fonte de Pesquisa: Site ABI.

4 comentários:

  1. acho q vc está meio q puxando brasa para sua sardinha! como é q fica O PAÍS Q DIZ ESTAR PREOCUPADO COM O RUMO DA SUA EDUCAÇÃO? Não acha q é um contra-senso? Um retrocesso? Como ficam os q estão cursando? Acredito ser um desestímulo. Ética profissional não vem de berço não, se aprende é em sala de aula!! Técnicas e tudo o mais...
    Um diploma jamais deveria ser descartado.
    bjs.
    Márcia.

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  2. Pai,
    minha vez de opinar.

    seguinte: vc fala de construção de textos, mas quem disse que só jornalistas constroem textos? a construção de textos é ofício de escritor, ou talvez, literato. Não somente jornalistas. Eu digo de um modo geral. Vc constrói textos, e nem por isso é jornalista (enfim, isso me incomodou).

    Vc fala, também, que "escrever é mais arte que técnica". Discordo completamente. Einstein já dizia: "10% de inspiração e 90% de transpiração". Também no jornalismo, 10% de talento, 90% de estudo. Quem, em sã consciência, já nasce sabendo as bases do jornalismo, já nasce tendo estudado sobre os pilares do jornalismo, sobre as teorias do jornalismo? Quem?
    E quem, meu pai, consegue trabalhar sem se embasar em alguma coisa, em alguma teoria? Criaram seus estilos do nada? Uma coisa completamente nova, livre de vícios mundanos, quando já se sabe de trás pra frente que nada se cria, tudo se copia (sem espernear, pq vc sabe que é verdade)?

    Se for assim, então vamos abolir as faculdades todas, afinal, se eu estudo Direito, é porque eu, naturalmente, aparentemente, sei defender uma causa, conheço as leis. E se eu estudo Medicina, é porque eu conheço de cabo a rabo o funcionamento do corpo humano e suas respostas a medicamentos, a procedimentos cirúrgicos. Aliás, sei quem foram os pioneiros nas Ciências que dera origem ao que eu estudo hoje. Claro!

    Os maus jornalistas que vemos por aí (com diploma ou sem diploma) são aqueles que não tiveram base de estudo ou não ligaram pra ela. E aí? Será que não devemos notar um outro lado: o da educação?
    Os bons jornalistas que se destacam são o fruto mais puro da dedicação, do esforço, do estudo. Assim como em qualquer outra profissão.
    Muito me admira vc, que gastou sua vida toda me dizendo exatamente isso que eu acabei de falar sobre esforço, dedicação e estudo, defendendo exatamente o contrário.
    Sim, pois o que o Governo está tentando fazer é exatamente isso: deixar cada um à vontade para decidir se precisa ou não estudar - quando todos nós sabemos que TODOS DEVEMOS ESTUDAR.

    Sobre as matérias e fotos tendenciosas e que visam a interesses particulares, sinceramente, em todo canto tem. Essa é a nossa realidade. Até nas áreas em que mais deveria existir ações corretas e resultados precisos, como na Matemática ou Estatística, os profissionais se vendem por dinheiro para alterar dados de pesquisas.

    E, aí, entramos em uma outra questão: os valores subvertidos da nossa sociedade. A humanidade está caminhando nesse rumo. E uma parcela que pode fazer diferença nessa hora são exatamente os meios de comunicação com seus formadores de opiniões. Agora, imagine só se não for mais obigatório o diploma nessa área tão importante: os maus jornalistas que vemos por aí irão se multiplicar cada vez mais rápido, com opiniões sem um pingo de bom-senso, prejudicando cada vez mais nossa sociedade tão subvertida e gradativamente mais frágil.
    Exatamente o que já acontece com a Publicidade, que não exige diploma para se trabalhar na área. Publicitários "formados" na SOS Computadores que saem por aí fazendo barbaridades na Comunicação, estremecendo o esqueleto de grandes teóricos da Comunicação, como Gramsci, ou como Lipovetzki, só porque aprenderam a mexer em Corel Draw e Photoshop. Não é assim que funciona!! Uma área tão densa como a Comunicação merece um mínimo de estudos aprofundados não só sobre Comunicação, que por si só já é complexa, mas sobre o Homem, sobre a Sociedade, sobre a Filosofia, sobre a Consciência, sobre a Moral.

    Jornalistas caça-níqueis sempre existirão. Em toda profissão há os charlatães, os politicamente corretos, os medíocres, e toda qualidade de categoria que vc puder imaginar.
    Nos resta lutar, gritar, por políticas educacionais de qualidade e retas para nós, futuros profissionais.

    Ok, vou parar por aqui. Sei que já tá muito extenso, mas essa é minha opinião - resumida.
    hehheehh

    beijo!!
    Camilla

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  3. Milla!
    Concordo com a dubiedade que deixei acerca da idéia de o escritor ser jornalista. Não era bem dessa forma que queria ter colocado. Ficarei mais atento daqui pra frente.
    Quanto à base de seu comentário, percebo haver apenas uma diferença de visão: enquanto vejo a escrita como arte, você vê como puro ofício. Nada contra; é apenas uma diferença na forma de ver as coisas.
    Mas entendo que se as escolas ensinassem as crianças, desde o início, a correta interpretação das leis, teríamos sim advogados práticos; se ensinassem as teorias da construção, teríamos engenheiros práticos; se ensinassem as bases da educação formal, teríamos pedagogos práticos. É exatamente o que se faz com a escrita: exige-se, desde cedo, que aprendamos a escrever corretamente, e, inclusive, com técnicas de redação. Isso nos transforma, a todos, escritores em potencial. Aos que se identificam é reservado o privilégio e o júbilo de transformar esta “obrigação” em uma espécie de arte.
    Não se comenta em momento algum acerca da extinção do curso de jornalismo. O que se está estruturando é a chance de o artista ter também seu espaço respeitado, e não apenas o técnico. Quebra-se, assim, o corporativismo que existe no setor. Apenas isso. Acredito, repito, que os empresários responsáveis optarão sempre pelos profissionais técnicos em suas funções chaves dentro das redações e nas corporações. E o fato de qualquer um poder escrever não garante a publicação. Continuará a cargo do bom chefe de redação, e dependendo da linha ideológica do tablóide, a publicação ou não de um artigo, claro!
    E como explicar, baseado na alegada teoria de Einstein, que um Patativa do Assaré, grotão sem qualquer estudo, seja reconhecido mundialmente pelos seus versos, melhores até que os de nosso “rei” Roberto Carlos!!! E, vale lembrar, que ele, o Patativa, não é exemplo isolado!
    Bem... acho que nem esperneei muito, né! Era o que eu tinha a comentar. E é sempre um imenso orgulho “ler” você. Adoro!!!
    Valeu mesmo pelo comentário franco e embasado!
    Beijo grande do Pai! (orgulhoso pra caramba!!!)

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  4. Ah... esquecí de um detalhe: você sabia que qualquer cidadão maior de 21 anos, advogado ou não, pode impetrar um "Habeas Corpus" judicialmente!!! Sabia disso?
    Pois é, qualquer um pode. Não precisa ser advogado, nem ao menos ser matriculado no curso de Direito.
    Só pra constar!
    Outro beijo!

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Valcir Machado