quinta-feira, 22 de abril de 2010

Além da música!


Dia nove de Abril. Após uma cerveja rápida com meu irmão em nosso barzinho mais que preferido – O Carlinhos -, eu e a Milla nos entreolhamos e nos perguntamos quase que ao mesmo tempo: “E nós, vamos fazer o que agora?”.
- Pai, vamos lá no Vila Camaleão? Você vai gostar, tenho certeza!

Ela já havia ido a este local outras tantas vezes e eu sempre curioso quanto a quem frenquentava este lugar, o que rolava por lá, qual a temática do bar, o clima que imperava entre os adeptos, enfim, curioso como qualquer pai estaria e pelos mesmos motivos.

Chegamos por volta das 23hs e juntamente conosco, meio que já atrasado, o maior violonista desta cidade em minha opinião: Tarcísio Sardinha. Poxa... será que ele iria tocar também? – pensei! E, realmente, ele se misturou a uma pequena trupe que já estava no palco a sua espera e se deu início aí a uma das minhas maiores surpresas – e das boas!

O público básico deste “Vila Camaleão” está na faixa dos 16 aos 26 anos de idade, no máximo. Claro que eu, com meus 45, fiquei num cantinho bem escondido perto do palco; no gargarejo mesmo!

Localizado numa área de grande badalação entre os jovens, com várias boates psicodélicas, de muita gente no meio da rua com seus sons potentes nos carros a disputarem quem faz mais barulho, este destoa completamente de todos os demais, apenas pelo seu estilo musical: samba... apenas samba; nem pagode vale; apenas samba da melhor qualidade e de nossos maiores expoentes tipo Paulinho da Viola, Cartola, Adoniran Barbosa, Chico Buarque de Holanda, Toquinho e Vinícius, Gonzaguinha, Noite Ilustrada entre tantos outros.

Ví “crianças” cantando emocionadas – com as letras na ponta da língua - sambas como “Regra três”, “Vai Passar”, “É”, “Trem das Onze”, como se estivessem numa apresentação dos “Back Street Boys”, “You 2”, “Guns N' Roses”, ou sei lá mais quem faz sucesso entre eles hoje em dia. Numa situação completamente inusitada, cheguei a ver uma jovem chorando enquanto cantava – a plenos pulmões e com os braços levantados como quem agradece a Deus – o samba enredo “Um lençinho”, acreditem! Fiquei emocionado! Vi a mim há alguns anos atrás! Eu também já senti esse imenso prazer! Aliás, até hoje fico arrepiado ao ouvir algumas músicas! Choro as vezes, confesso! Eu e a Milla!

Percebi, aí, a notável mudança de comportamento que está em curso entre eles, jovens, benéfica que é e que nós pais tanto tentamos incutir em suas cabeças ao longo dos anos; uma verdadeira involução; sim, é isso mesmo; uso este termo por não encontrar outro melhor para tentar traduzir o retorno à valorização da música brasileira, da melodia bem construída, da poesia em cada letra; nossa real música popular, que perde espaço para chavões meramente comerciais e que nos fariam um enorme favor se não contivessem letras.

Encontrei diversos pequenos grupos de jovens reunidos em torno de suas mesas dançando, cantando, todos interagindo sem disputas, sem rusgas, sem agressões mútuas, numa diversão sadia, comportada, amena, amiga, reunidos em torno do mesmo bom propósito que era ouvir, dançar e cantar boa música; nada a mais!

Que alegria perceber que isso está de volta, que volta a existir; como no meu tempo, como na minha juventude era, como vivi há tempos atrás e que tenho orgulho de ter vivido. Conto constantemente à minha filha como nos divertíamos entre amigos, sem sustos, sem riscos, sem receios. Diversão segura e tranqüila, sem grandes excessos e cercado de pura alegria e de boa gente, sempre!

Parece haver, entre eles, um tipo de saudade do que não foi vivido, talvez pelo tanto que falamos e mostramos com nossos diversos exemplos de amizades com mais de 30 anos. Sabemos, hoje, que esta amizade quase anciã que sempre nos uniu advém do que vivemos em nossa juventude, dos inúmeros finais de semana vividos juntos e sempre muito sadios, em torno de músicas como estas que eles voltam agora a valorizar; dias em que pudemos nos divertir sem os riscos dos ambientes pesados que são uma febre hoje entre eles; de saber que a música influi diretamente no estado de espírito das pessoas e que podemos ser anjos ou demônios, dependendo do que escolhamos ouvir!

(Foto: Camilla Machado.)

5 comentários:

  1. Adorei o novo visual do blog e, acima de tudo, adorei o texto!
    hahaha

    agora nao vai ter mais problema em eu sair com o pessoal do Baqueta rpro Vila, né?
    hahaha
    Eu sempre falava e vc nunca acreditava que ond eu frequento é tranquilo e tal e coisa.
    haaam! =)

    bjo!

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  2. só peço que, da próxima vez, preste mais atenção à foto, pq essa tá horrível, quase que eu não entendo. podia ter posto aquela que eu tirei na Pedra do Sal, do cavaquinho do Miranda! =)
    [puxando a brasa pra minha sardinha! haha]

    bjo

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  3. Como vc deve ter percebido, resolvi puxar a brasa pra "nossa" sardinha...rsrsrsrs
    Aquela foto estava com a resolução bem ruim mesmo!

    E... sim, claro que vc pode ir lá sempre que desejar ou convinher, mas, como já lhe falei, após as 2h da manhã dificilmente haverá algo de sadio na noite. Atenção, então.

    Beijo do pai!

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  4. Primo e prima... acho lindo tudo isso entre vocês!!

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  5. Valdirzinho... valeu mesmo!!!

    Beijão, e agradeço a visita! Fica com Deus!

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Valcir Machado